domingo, 11 de setembro de 2016

Colocações 2016

Consulte aqui os números deste ano:
vagas e médias das colocações 2016.


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PREPARAR O REGRESSO À ESCOLA

É tempo de forrar livros, afiar lápis, colar etiquetas.
É ainda tempo de lembrar que a escola é um local mágico, de crescimento e de descoberta.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Sobre o buzinão no Marquês e o devolver a cidade aos lisboetas

Gosto da ideia de um Eixo Central cheio de árvores, como de uma Segunda Circular cheia de pássaros. Gosto da ideia das esplanadas, das bicicletas, dos transeuntes a caminharem e a viverem a sua cidade.
Já quase se tornou um hábito, quando não chove, sair de casa, apanhar a Duque d'Ávila, ir ao mercado biológico ou ao corte inglès pela ciclovia, que a calçada dá-me cabo dos pés, para fazer umas compras pequenas. Portanto, também me imagino a fazer outros percursos a pé. Mas isso sou eu que vivo no centro da cidade. E os outros? Vêm a pé de Telheiras ou de Alcântara? E os que não moram em Lisboa (diz que são cada vez menos por culpa do preço das rendas) vêm a pé de Sintra, do Montijo (vêm a nado), de Cascais ou de Vila Franca de Xira?
O objectivo é que deixemos os carros e o nosso conforto à porta de casa e usemos os transportes públicos. Por isso, antes ainda das obras, deveriam invistir em bons transportes públicos, com muitos horários, motoristas sorridentes e passes baratos – sim porque os transportes são caros e contas feitas, por vezes, vale mais andar de carro do que com o cotovelo de alguém espetado nas nossas costas e o nariz debaixo do sovaco do vizinho.
E, já agora, para quando o regresso dos passes com desconto para os estudantes? Tenho lá dois em casa... Por caridade, tenham a bondade de me auxiliar...
BW

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Contratos de associação: uma discussão familiar

"Eu acho que o Governo tem razão...", diz-me ela, do alto dos seus 16 anos. "Não se pode estar a dar dinheiro aos privados se as escolas públicas estão tão mal...", justifica, depois de ouvir as notícias sobre os contratos de associação na rádio.
"Não é bem assim, uma coisa não tem a ver com a outra", digo, sentada ao volante.
"Não! Desculpa lá, mas desta vez não tens razão. Se o investimento for feito nas escolas públicas, não se despedem os professores, as salas podem ter melhores condições, até pode haver manuais gratuitos... Tu não queres que toda a gente tenha as mesmas condições que nós tivemos? Mas nem todos podem ir para os colégios, não é? Então as escolas públicas têm de ter as mesmas condições!", argumenta ele, contrariado por ser o mais velho e ir no banco de trás.
Ela, à frente, corrobora: "O mano tem razão..."
"Sim, vocês têm razão, mas os pais querem que os seus filhos frequentem estas escolas..."
"Se querem têm de pagá-las!", diz ele, peremptório.
"Não necessariamente. Se o Estado lhes possibilitou até agora poder ter lá os filhos por que razão não podem continuar no ciclo seguinte? Se os pais querem é porque sabem que aquelas escolas oferecem outras condições que a escola pública ao lado de casa não oferece. Muitos destes pais não são ricos", digo.
"Exacto! Então o Estado tem de investir nas escola pública para oferecer as mesmas condições a todos!", aponta ele.
"Ou... o Estado pode ter a coragem de concluir que essa escola pública não é boa e fechá-la. Por que não se pode fechar uma escola pública?", pergunto-lhes.
"Porque o ensino deve ser público e gratuito", responde ele.
"Sim, mas é gratuito para estas famílias e estas escolas estão a oferecer um serviço público", continuo.
"Está mal!", reage. Ela vai acenando e concordando com o irmão. "Se querem que os filhos fiquem nos colégios, têm de pagar. Vocês também pagaram..."
"Vocês até podem ter razão, mas falta-vos porem-se nos sapatinhos dos outros. Serem solidários com os pais e com os alunos que não podem continuar nessas escolas; com os professores e funcionários que podem ser despedidos...", começo a dizer, tentanto um outro ângulo.
"E nos sapatinhos dos professores do ensino público que foram despedidos?", contrapõe ele.
"Também", concordo. "Mas os professores do público têm mais direitos do que os do privado? Por acaso até têm... Nada é assim tão simples", ainda tento.
"Então estamos conversados, mãe, desta vez não tens razão."
"Mas gostamos de ti à mesma", brinca ela, fazendo-me uma festa na mão.
"Eu não!", diz ele.
Espreito pelo retrovisor e ele pisca-me o olho.
BW

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Contratos de associação: sim ou não?

Nota histórica: os contratos de associação nasceram numa altura em que a rede das escolas públicas não chegava a todo o lado. Assim, o Estado contratualizou com escolas privadas que existiam nas regiões, pagando-lhes para receber todos os alunos. Portanto, estes não pagam mensalidades porque é o Estado que as paga, como se de uma escola pública se tratasse.
Com o passar do tempo, o Estado construiu escolas, em algumas regiões duplicou a oferta, uma vez que esta já existia. A isto devemos chamar "má gestão". Mas não é assim que a esquerda interpreta – tudo, mais cedo ou mais tarde, cai na ideologia. A isso a esquerda chama "oferta pública". Como se o que as escolas privadas fazem não fosse escrutinado pela Inspecção-Geral da Educação, como se não tivessem de dar as mesmas matérias que as públicas, como se os seus alunos não tivessem de fazer os mesmos exames.
Mas a história não fica por aqui e, paralelamente à construção de escolas públicas, o mesmo Estado – é preciso ver que este nem sempre é o mesmo porque umas vezes é o PS que o gere, outras é o PSD/CDS – autorizou mais contratos de associação em colégios ao lado de escolas públicas e mais: permitiu que novas privadas conseguissem estes mesmos contratos. Má gestão, repito.

Depois de viverem dias calmos com Nuno Crato, as escolas privadas com contratos de associação estão em alvoroço com a possibilidade de perderem os contratos, logo, o financiamento.
Há contratos que são vergonhosos, os do centro da cidade de Coimbra, com escolas públicas ao lado! O das Caldas da Rainha onde a escola pública já existente ficou às moscas desde que a privada abriu, recentemente.
Mas aqui é que está o ponto: por que está a escola pública às moscas?
E devia ser sobre isso que as públicas que querem os alunos das dos contratos de associação deviam reflectir, em vez de acharem que têm o direito porque o "ensino é público". Repito: porque está a escola pública às moscas?
Outros pontos sobre os quais podem reflectir:
O que faz a escola pública para bem receber os alunos?
O que lhes oferecer em termos de actividades extra-curriculares?
Tem um corpo docente estável e disponível para tudo?
Tem recursos físicos e humanos para que os alunos fiquem até mais tarde?
Como é a sua relação com os pais? Ouve-os, trata-os bem?
Tem transporte?

Há escolas com contratos de associação más? Há, basta olhar para os rankings e elas lá estão. Há escolas com contratos de associação que escolhem os alunos? Sim, como há públicas que o fazem, mesmo que jurem a pés juntos que não. Há escolas com contratos de associação que exploram os seus professores? Há, têm sido denunciadas pelos sindicatos.
Mas também há escolas com contratos de associação que recebem os alunos que as públicas não querem ou os que as públicas desistiram.
Um amigo do meu filho esteve numa escola com contrato de associação com uma equipa de atletismo fortíssima – ah, pois, os privados podem ter essas coisas, dirão já os invejosos. Mas os públicos não têm porquê? Porque não querem, não é por falta de condições visto que todas as escolas têm pavilhão desportivo e departamento de educação fisica.
Voltando ao amigo do meu filho. É um rapaz de uma família pobre de uma ex-colónia, de um bairro complicado, que noutra escola teria poucas possibilidades porque estaria, à partida, condenado ao insucesso. Nesta escola com contrato de associação foi integrado, a escola percebeu que o miúdo tinha jeito para o desporto, pô-lo a praticar uma modalidade que pode levá-lo longe, e, entretanto, entrou na universidade, com bolsa, conseguida com a ajuda da escola que preparou todo o processo – ah, mas as privadas têm condições que as públicas não têm, onde é que numa pública podemos ajudar os meninos a ter bolsas... Mas não existe um gabinete de acção social?
Portanto, se este miúdo não tivesse sido verdadeiramente integrado, não lhe fosse traçado um projecto de vida, provavelmente poderia fazer parte daquele grupo de 30 que queria, à força toda, comer às sete da manhã no Palácio dos Kebabs, em Santos, em Lisboa, e como não lhe foi feita a vontade destruiu e roubou.
Esses rapazes, possivelmente com o mesmo background que este miúdo, não andaram na escola? O que é que a escola fez por eles, já que as famílias nada fizeram?

Mas todas as escolas com contratos de associação são bons exemplos de integração? Claro que não! E todas as públicas são um mau exemplo? Também não. O que quero dizer é que se a escola cumprir o seu papel – se em vez de os directores estarem preocupados em agradar ao seu corpo docente, se preocuparem com os alunos e as famílias –, certamente que os pais vão querer que os filhos fiquem na pública ao lado de casa, em vez de meterem os miúdos nos autocarros para irem para a privada com contrato de associação que fica a 25 km de distância.

O desafio é deixar as leis do mercado funcionarem! Mais: se eu fosse o Ministério da Educação, em vez de apregoar que os contratos são para acabar, para gáudio da Fenprof, do PCP e do BE, punha a IGE no terreno, a reflectir com as públicas que estão às moscas e com as privadas que têm maus resultados. Porque se a rede inclui públicas e privadas, por que hão-de ser as privadas a fechar as suas turmas, só para que se mantenha o peso da máquina do Estado? Enquanto este for conivente com as suas clientelas não lhes exigindo nada em troca, a escola não muda e, por consequência, a sociedade tende a piorar.
BW

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Ver televisão em família

Em casa só há uma televisão, está na sala. Não há televisão à refeição, comemos na cozinha. É preciso negociar o que se quer ver e, às vezes, até há discussões.
Há dias, para meu espanto, ela explicava um termo desportivo e lamentou-se: sabia-o por ver tantas vezes os programas da Eurosport quando o irmão não a deixa assistir aos que ela gosta. Depois ele chega à sala e resmunga porque ela está sempre a ver as mesmas sitcoms – "mas eu também vi o campeonato europeu de atletismo..." – e ele lá se senta e vê-as.

Eu faço o mesmo, sento-me e vejo. Vi as séries de desenhos animados quando eles eram pequenos, vejo as sitcoms e as séries mais teen, voltamos a rever os filmes que vimos no cinema, e, a pouco e pouco, eles vêem as séries e os filmes que eu e o pai gostamos. Nós mantemo-nos actualizados e sabemos do que gostam os miúdos da idade deles, eles ganham "cultura geral" a assistir aos clássicos do cinema.

Agora, estamos a ver a "Aldeia Francesa", na RTP2, depois do telejornal. E, de repente, a Segunda Guerra é mais do que o Hitler e os campos de concentração que já conhecem de outras séries, filmes e livros – primeiro O rapaz do pijama às riscas, depois Se isto é um homem –, é a ocupação, a Resistência, o comunismo, o racionamento, a corrupção, as mulheres de classe alta aborrecidas com as suas pequenas vidas, as relações proibidas, as crianças e a escola... E é o partilhar histórias de família, daquela que não viveu a ocupação (a portuguesa, mas sofreu com a guerra) e a que viveu (a chinesa, por parte dos japoneses, os bombardeamentos, a fuga, etc).

Se tivessemos várias televisões teríamos menos momentos de partilha, de negociação e de comunicação. Atenção, mas a harmonia nem sempre existe! Às vezes não há consenso, o aparelho desliga-se e cada um vai para o seu canto, fazer coisas mais úteis à sociedade!
BW

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A escola pode contribuir para o bullying?

A pergunta é feita por um aluno da secundária de Miraflores, onde estive na sexta-feira a falar sobre bullying. "A escola pode contribuir para o bullying?"
É uma pergunta muita curiosa porque sabemos que o bullying se passa dentro da escola, mas até que ponto esta pode contribuir? Sim, começo por dizer e dou logo um exemplo: quando um aluno que não compreende se porta mal e é mandado para o fundo da sala, e fica lá a matutar não na sua incapacidade, mas na capacidade do outro que está na primeira fila, aquele com que ele vai implicar quando estiver forem para o recreio, aí a escola está a contribuir.
Mas o facto de terem deixado de existir as áreas não curriculares, nomeadamente a Educação para a Cidadania, não contribui também para o bullying?, insiste o jovem.
Sem dúvida, respondo, ao mesmo tempo que penso "que inteligente!" e não resisto a elogiá-lo num elogio generalizado às quatro turmas que me ouvem (três de 10.º e uma de 12.º): Vocês são miúdos privilegiados, de certeza que receberam educação em casa, informação, cultura, sabem estar numa sala de aula; mas há muitos que não sabem, há muitos que não chegam à escola com as mesmas ferramentas. E a Educação para a Cidadania, o Estudo Acompanhado e a Área Projecto foram pensadas sobretudo para esses, para os ajudar a chegar ao mesmo patamar em que vocês se encontram. Porque não basta ensinar, é preciso educar. Sim, a Educação para a Cidadania poderia ajudar a combater o bullying.

sábado, 2 de abril de 2016

A mitologia grega em Harry Potter



Para que se saiba, sou fã do Harry Potter. Dos livros e dos filmes. Divirto-me em mundos paralelos, com personagens fantásticas e felizes. No entanto, agora, ao revermos em família os vários filmes, esquecida do encanto e surpresas iniciais, constato que muitas das fórmulas de outros filmes e autores se repetem: a célebre luta entre o bem e o mal, tantas vezes recuperada (porque faz parte da essência do ser humano, claro!); as personagens que se assemelham a outras nossas conhecidas, por exemplo, ao Senhor dos Anéis (Prof. Dumbledore e Dobby); o ambiente universitário tipicamente britânico (não esqueçamos que as Universidades de Oxford foram cenário em várias cenas dos filmes) e, era a este ponto que pretendia chegar, a Grécia. Sim, Grécia Antiga! Ora vejam se tenho ou não razão e se a mitologia grega não exerceu forte influência sobre J. K. Rowling.

1. "Half-blooded" ou, em português, os "sangues de lama". Para os menos familiarizados com a linguagem potteriana, esta trata-se da designação atribuída aos filhos de um mágico/bruxo com um simples mortal. Ora, também os deuses gregos tiveram filhos com os mortais humanos! Os semi-deuses.

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2. Fluffy, o cão de três cabeças que guarda a pedra filosofal. Esta criatura é claramente uma recriação de Cérebros, o cão tricéfalo de Hades.




3. Centauro: a criatura meio homem/meio cavalo que surge no primeiro livro/filme e ajuda Harry Potter. Uma personagem fantástica dos gregos, claro.

4.  Fawkes, a fénix do Dumbledore e criatura que dá nome a um dos volumes da saga. Além disso, é uma mesma fénix que une Harry Potter e Voldemort, dado que a sua penugem faz parte das suas duas varinhas mágicas.
 
Estas constatações não retiram o mérito à autora e saga, todavia, creio, provam que as mais mágicas das criaturas foram criadas muito antes de J. K. Rowling.  Pelos gregos, claro!

segunda-feira, 14 de março de 2016

Não uma aldeia, mas 20 anos para educar uma criança

"É costume dizer-se que para educar uma criança...", diz a minha mãe do outro lado do telefone. Reviro os olhos porque já sei que me vai dizer que "é preciso uma aldeia", mas não, ao fim de tantos anos e de tantas histórias e dizeres repetidos, a minha mãe consegue surpreender-me: "para educar uma criança são precisos 20 anos antes de ela nascer."
Por segundos fico baralhada, então não é o ditado africano da aldeia, da comunidade que se junta para educar os novos membros, para os ensinar a viver em comunidade? Não. São 20 anos, mas duas décadas antes de a criança ser nascida?
OK, já percebi! São 20 anos, o tempo dos seus pais, eles próprios serem educados e, antes deles, os pais dos seus pais. São precisas gerações e gerações.
É preciso sabermos namorar! O quê?!, pergunta o leitor, já muito confuso, então não era educar?! É verdade, é preciso saber muito bem como se escolhe e quem se escolhe para ser o pai ou a mãe dos nossos filhos. Daí os tais 20 anos. Porque, lá está, tudo reside na educação, na forma como fomos educados, na forma como vamos educar – não as palavras, mas os exemplos que damos – e, para educar, somos precisos dois! Dois e toda a nossa experiência e a dos nossos antepassados!
BW

quinta-feira, 3 de março de 2016

Falar de política ou da morte aos mais novos

«Falar da morte aos mais novos? Nem pensar. Só muitas estrelinhas no céu e outros eufemismos inventados pelas queridas avós. Falar de política? Também não! Têm tempo para crescer e descobrir quão mal anda a nossa vida e quão corruptos são os nossos governantes.»
É frequente ouvir estas perguntas e respostas. Em nada me identifico com elas. Bem sei que cada criança é única e são os pais que têm de a conhecer para saber até onde podem ir. Mas também creio firmemente que adiar um problema não é nunca uma solução. Por isso, acredito que é de evitar adiar a conversa da morte e falar de política, que são dois problemas da existência humana.

Abreviando o tema da morte, recordo apenas a naturalidade com que a minha filha disse que queria acompanhar-nos ao funeral de alguém particularmente querido aos primos. Sentiu e quis ir, pois sabia que era um momento importante. Daqueles em que temos de estar com quem amamos. Mesmo que seja só para estar.
Ele, nem pensar! Só a notícia o deixou com dores de barriga e mal disposto, sem perceber porquê, e ainda a achar que o leite estava estragado (se calhar é com ele que tenho de falar mais!).

Quanto à política, temos, a par com a escola, de lhes abrir horizontes. Dar-lhes o nosso exemplo de participação, levá-los connosco às urnas (aqui quiseram ir os dois!) e mostrar esperança neles e no futuro, ainda que, para tal, se critique o passado (ou mesmo o presente).
Para isso, deixo aqui algumas sugestões, que podem ser vir de ponto de partida para estas conversas de política: o livro Vamos a votos, do José Jorge Letria, e O meu livro de política, do ex-Presidente da República Jorge Sampaio. Não resisto ainda a incluir nesta lista o original livro de ilustrações Capital, do Afonso Cruz e editado pela Pato Lógico.
Por fim, o P3 traz-nos ainda umas sugestões em português do Brasil bem divertidas. E a Rita Pimenta conversou com Clovis Levi que é o autor brasileiro que escreve sobre a morte, a sexualidade e a ditadura.
Boas conversas!
AS

terça-feira, 1 de março de 2016

Um concurso que parecia ter tudo para dar certo

Existe há mais de 30 anos no Japão e a Nissan Portugal teve a ideia de o promover por cá. O concurso parece ter tudo para dar certo: a partir de um tema, os alunos escrevem e ilustram uma história. Ao longo de três anos, o júri reuniu e foi classificando os trabalhos. Alguns muito inocentes, outros mal escritos ou com ilustrações com traços demasiado infantis ou de quem não sabe mesmo desenhar.
O que correu mal num concurso que apela à imaginação e à criatividade?
O prémio não prestava? Não, o prémio era uma viagem a uma cidade europeia onde além do turismo proposto, os vencedores poderiam ver um centro de investigação ou uma fábrica da Nissan.
O prémio era só isso? Não chega? Mas havia mais: as dez histórias vencedoras seriam publicadas num único volume pela Leya, parceira desta iniciativa da Nissan.
O que é que interessa publicar um livro? E se forem dois? É que além dos jovens autores terem a sua história publicada, os vencedores da melhor história e da melhor ilustração (que pode não ser o mesmo par, da mesma escola, porque a melhor história pode ser a A e a melhor ilustração a B) teriam de se sentar e criar uma nova história e uma nova ilustração para ser publicado num outro livro, só com esta história. Portanto, no espaço de um ano, um jovem escritor/ilustrador tinha a possibilidade de publicar dois livros, quantos velhos escritores ou aspirantes têm essa possibilidade?
O júri era uma porcaria? Espero que não, eu fazia parte do júri, uma vez que o PÚBLICO foi media partner da Nissan! Mas estavam lá nomes com experiência e credibilidade como o escritor António Torrado, que na última edição foi substituído por Alice Vieira; o ilustrador Paulo Galindro; o comissário do Plano Nacional de Leitura e escritor Fernando Pinto do Amaral; o pintor Eurico Gonçalves (Sociedade Nacional de Belas Artes), além do editor da Leya Vítor Silva Mota e o responsável pela Nissan Guillaume Masurei. Portanto, pessoas da escrita e da ilustração.
Foi dado pouco tempo às escolas para participarem? Creio que não. Estas tinham conhecimento do concurso logo no início do ano lectivo e os prazos para cada fase eram razoáveis. No entanto, este é um concurso vocacionado para os jovens do secundário e estes andam preocupados com os exames.
Os temas eram difíceis? Nem por isso, embora estivessem sempre ligados, de alguma maneira à Nissan, e isso pode ser dissuasor. Mas escrever uma história a partir da ideia do ambiente ou da emissão de gases não é assim tão complicado!
Então o que correu mal? Eu tenho para mim que o que falhou foi a necessidade de a escola se envolver, de os professores terem de ser um motor para que a coisa funcione e, é como tudo, há professores de Português que agarram no colega de Educação Visual ou de Desenho e Geometria Descritiva (ou vice versa) e o desafia: vamos participar neste concurso? Quem é o teu melhor aluno no desenho? E quem é o meu na escrita?
Ou então, o professor propor à turma: Meninos, em vez de escrevermos sobre os heterónimos de Pessoa, vamos imaginar uma história sobre emissões de gases! E, a partir daqui, avaliar quem é o aluno que pode levar a escola a vencer o concurso.

Acho que foi isto que faltou. Agora o concurso foi suspenso por um ano para ser repensado. Estou curiosa!
BW