quinta-feira, 18 de junho de 2015

Mas alguém viu o exame de Português com olhos de ver?

Mas o que é que se passou com o exame de Português? E o que é que se passa com as associações de professores de Português? (sim, "associações" no plural, pois vivemos num país em que cada vez mais, em vez de consensos, se criam divisões). E, se esperávamos sensatez nos comentários de uma associação, espantamo-nos quando não nos revemos nas opiniões publicadas nos jornais de nenhuma das duas representantes dos professores de português.
Ora recordemos este exame.
Matéria do 12.º ano: excerto de "Memorial do Convento"   - perguntas de interpretação, que não apelam ao conhecimento da obra, autor ou estilo.
Matéria do 10.º e 11.º: poema de Sophia (tema - poesia contemporânea do 10.º ano) -  perguntas de interpretação, que não apelam ao conhecimento da obra, autor ou estilo.
Gramática e interpretação: um belíssimo texto de Tolentino Mendonça - 50 pontos, dos quais apenas 20 eram para gramática, os restantes eram de interpretação.
O Público ouviu as duas associações de Português. E, mais uma vez, estas divergiram.
A APP crê que as médias vão voltar a baixar porque duas perguntas "exigiam uma grande concentração da parte dos alunos" . Porque exigia concentração?!? (Vá lá, refere-se a falta de objectividade do exame. Mas já lá irei.)
A nova Associação Nacional de Professores de Português considera que a prova foi “bastante acessível e absolutamente exequível para qualquer aluno”. Ok. Mas não comenta a articulação com o programa?
Moral da história: alguém viu o exame de Português com olhos de ver? Ouviram os alunos no final da prova? Sentiram o descrédito que a mesma gerou em torno da disciplina de Português, disciplina já tão mal amada e tratada?
Ninguém é capaz de dizer que esta prova gorou por completo as expectativas dos alunos que estudaram a sério autores e obras referentes aos três anos da disciplina? Ninguém é capaz de dizer que para o exame não era preciso ter estudado os peixes todos do Sermão de Santo António, o estilo queirosiano, "Os Lusíadas", "A Mensagem", a lírica de Camões, a peça "Felizmente Há Luar!"? Sim... estudar estas obras desenvolveu as competências necessárias à análise que se pedia no exame. Mas, por favor, não era precisa conhecer o romantismo, realismo, modernismo!
Os textos foram bem selecionados. Os autores são inquestionáveis. As perguntas interessantes e bem formuladas. Mas, definitivamente, os alunos [que estudaram, note-se] sentiram-se defraudados.

PS - falta referir uma novidade (boa) deste exame: acabaram-se as respostas de gramática cotadas com 0 pontos devido aos erros de ortografia ou acentuação.


2 comentários:

  1. Discordo. A prova era harmoniosa e muito bem feita. Os alunos não se queixaram e exultaram de alegria com o excerto de Memorial e com o tema do GrupoIII.

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  2. Olá, venho fazer uma pergunta que pode parecer um pouco estúpida mas ainda não encontrei bem a resposta para esta. Mesmo que tenha nivel 1 ( menos de 20%) no exame não reprovo pois não, é porque tenho uma amiga que diz que wim

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