sábado, 30 de maio de 2015

"Obrigada pelo que faz por nós"

Gosto de ir às escolas! Gosto quando, como ontem, na Escola Secundária Inês de Castro, em Gaia, uma escola premiada, o director me recebe com orgulho do estabelecimento de ensino que dirige; quando os professores mostram o trabalho de um ano, feito com os seus alunos; quando os estudantes se envolvem nas actividades propostas pela escola; quando os pais estão presentes e só têm bem a dizer de toda a comunidade educativa.
Esta é uma semana difícil, as aulas estão a terminar e os alunos do secundário empenharam-se nesta actividade. São eles que me dão as boas-vindas, que prepararam as apresentações. Fizeram um vídeo sobre a evolução da educação, tocam e cantam. Sinto-me verdadeiramente humilde e envergonhada com todo o trabalho. Mas, atenção, não é tudo para mim, aquele é um sarau cultural, onde a minha intervenção é um dos pontos do programa. A escola faz, pelo menos, quatro por ano, abertos à comunidade, e para os quais convida um autor ou escritor.
A conversa corre sobre a relação família/escola. Uma das professoras presente pergunta: "Porque esperam as famílias que a escola faça tudo? Porque se demitem?" Porque é fácil e – apesar de estar acordada desde as seis da manhã, ter um dia de trabalho em cima, ter apanhado um comboio para Campanhã, ter tido uma reunião na Porto Editora, e serem dez da noite –, consigo fazer um trocadilho: "O professor Marçal Grilo escreveu um livro que se chamava "Difícil é sentá-los" eu diria que "difícil é educá-los" porque se os soubermos educar bem, a escola não terá dificuldade em sentá-los." E dou um exemplo concreto: é fácil para os pais deixar uma criança levantar-se da mesa, durante a refeição, não lhe dizer nada. Depois quando chega à escola não sabe estar sentada durante 90 minutos. É fácil mandá-los para a cama às 22h e andarmos de 20 em 20 minutos a insistir e desistirmos. E depois esperarmos que a escola faça o que devíamos ter feito. Quantos pais chegam à escola e pedem aos professores: Veja lá se faz alguma coisa dele, que eu não consigo...
Outra professora agradece por eu recomendar que não se fale mal dos professores – se as famílias não o fizerem, os miúdos terão mais respeito pelos docentes, insisto sempre; diz que é uma pena os pais que deviam ouvir-me não estarem ali ou não lerem o livro. Respondo que a queixa que ouço aos professores é exactamente a mesma: os pais que deviam não vêm à escola, mas também não é fácil para esses pais. Imaginem o que é, como relato neste livro, um pai que está numa reunião com outros pais e tem um director de turma a dizer-lhe – o seu filho porta-se mal, o seu filho não faz os trabalhos, o seu filho é mal-educado... – ninguém gosta, ninguém quer vir à escola para ouvir falar mal do seu filho. Mas há estratégias que podem ser implementadas, convidar os pais para uma festa, propor-lhes numa actividade, por exemplo, é preciso pintar uma parede... Há pequenos truques que podem trazer os pais à escola, envolvê-los e depois abrir espaço para conversar sobre o educando.
Para terminar, uma docente defende que o contacto entre a escola e os encarregados de educação deve ser diminuto. Preparo-me para discordar, mas a professora continua: Se o aluno for bem educado, se eu disser 'senta-te' e se ele se sentar, não preciso de falar com os pais. De acordo, mas isso é na escola ideal, isso é quando todos os pais se comprometerem realmente com a educação dos seus filhos. No entanto, a escola deve manter sempre os pais informados.
No final, durante o Porto de honra, já passa da meia-noite e a conversa continua. Uma professora lamenta o que a sociedade diz dos docentes, como se sentem mal tratados. Concordo. Outro pergunta-se como é possível haver tantos colegas que fazem más opções, que não têm bom senso, que dão mau nome à classe. Há bons e maus profissionais, respondo. Muito fazem os professores a quem tudo é exigido, que ensinem, que eduquem, que identifiquem os meninos com fome, com problemas em casa, com dificuldades, que façam projectos... Tudo lhes é exigido e as famílias demitem-se, dizem. As famílias e o Estado, acrescento. Porque se os pais tivessem melhores condições de trabalho, horários mais flexíveis, poderiam ser melhores pais, acredito.
São horas de sair. "Obrigada pelo que faz por nós", despedem-se os professores.
BW 


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