terça-feira, 18 de junho de 2013

Exames: os direitos dos alunos

Não há dúvida que cada um vê o que lhe convém.
Marcelo Rebelo de Sousa, ouvido pela Lusa esta tarde, diz que a greve dos professores aos exames foi uma “vitória dos direitos dos estudantes”.
“Foi objectivamente uma vitória dos direitos dos estudantes, uma vez que a maioria esmagadora conseguiu fazer exames”, disse. Contudo, lamentou que “quem ler os jornais de hoje e tiver visto as televisões de ontem (segunda-feira) achará que foi exactamente o contrário”.
É que foi exactamente o contrário! Os jornais e as televisões não mentem, reflectem a realidade.
Que vitória é esta quando houve estudantes que fizeram e outros não; quando houve uso de telemóveis, tentativas de interrupção da prova, exames feitos em salas que não de aulas ou com mais de 15 alunos por sala; com professores que não fazem a mínima ideia de como se comportar numa situação de exame? Que vitória é esta quando houve estudantes revoltados que invadiram as escolas, os corredores, incitando os colegas a não fazer, perturbando os que estavam a fazer a prova? Que vitória para os que fizeram o exame nestas condições? Que vitória é essa quando haverá 18 mil alunos com duas semanas para estudar e com um exame "fora de época" que pode comprometer a sua entrada no ensino superior?
"Vitória dos direitos dos estudantes"?
Os professores perderam? Ao que sei, continuam a fazer greve às avaliações para desespero do ministério e dos directores das escolas. Portanto, continuam a lutar.
O ministério perdeu? Perdeu a face, revelou o espírito vingativo que é a imagem de marca deste Governo. O castigo, senhores, o castigo aos portugueses que são uns gastadores, despesistas, que vivem acima das suas possibilidades. O castigo dos filhos dos portugueses, aqueles que estão a estudar para abandonar o país porque não há alternativas.
E, ontem, foram eles que perderam. Para eles não houve vitória dos direitos, só derrotas.
BW

7 comentários:

  1. Também eu me pergunto onde está a sua imparcialidade. A frase "Não há dúvida que cada um vê o que lhe convém" também se aplica a si.

    Madalena Freitas

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  2. Cara Barbara Wong, nada me move contra si, pq desde logo tem um nome simpatico, escreve sobre educacao neste blog e e' jornalista do Publico (que mesmo com aquela directora ainda e' o Publico).

    Mas confesso que nao percebo como e'que funciona esta coisa de escrever as suas opinioes +/- inflamadas sobre este tema e ao mesmo tempo assinar "noticias" no Jornal (nao estou a falar de artigos de opiniao) que e' suposto serem neutras.

    Nao e' que me tire o sono mas fez-me impressao suficiente para comentar...

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  3. Cara Madalena Freitas
    A imparcialidade não está na minha opinião, está nas notícias que foram escritas.
    Essas notícias revelam que:
    A) 90% dos professores fizeram greve e os 10% que não fizeram. Destes 10%, em muitos casos, os docentes não estavam preparados para os exames porque são do ensino básico ou mesmo técnicos que dão aulas. Sabia que os professores do secundário fazem reuniões e formações para se inteirarem de todos os procedimentos? Haver telemóveis de professores e de alunos a tocar dentro de uma sala de exame é motivo para anulação do mesmo. Haver alunos a correr pelos corredores e a entrar em salas onde estão a ser feitos exames é motivo para anulação. Haver salas onde os exames não começaram às 9h30 ou onde os alunos saíram antes do tempo previsto são também motivos para anulação.
    Ainda não ouvimos dizer que tal tenha acontecido.
    É uma vitória para os direitos dos alunos? Não me parece. É o não me parecer é a minha opinião.

    Caro Ricardo Porto
    Creio que a resposta dirigida a Madalena Freitas já responde um pouco ao que escreve. Mas deixe-me clarificar: se ler as notícias que escrevo não verá uma ponta de opinião porque o jornalismo se faz de isenção, de ouvir todas as partes, de transmitir a realidade como as partes a vêem. Tão só.
    No caso da greve dos professores e a realização do exame de Português foi isso que fizeram os meus colegas, nas rádios, televisões e jornais – no meu caso, só estive a coordenar o trabalho feito. Portanto, nem sequer escrevi uma notícia (no online pode ver a minha assinatura porque estive a coordenar e a escrever pequenos apontamentos como "leia mais aqui", "veja o video ali", "Clara Viana escreveu isto... Samuel Silva escreveu aquilo... "À RTP o sr. X disse isto... À TVI a sra Z disse aquilo").
    Porque os jornalistas cumpriram a sua função fazme confusão que Marcelo Rebelo de Sousa diga que "quem ler os jornais de hoje e tiver visto as televisões de ontem (segunda-feira) achará que foi exactamente o contrário".
    O comentador é um político social-democrata e não consegue ter a imparcialidade que um jornalista tem! É natural, mas às vezes revela-se pouco coerente. Lembro-me de Marcelo a "entrevistar" uma professora, em 2011, no seu espaço de comentário na TVI, sobre os problemas da classe naquela altura (governo PS) e, no final, ofereceu-lhe o meu livro "A minha sala de aula é uma trincheira"! Parece-me que os professores estão agora pior do que estavam há dois anos - interpreto eu da realidade que me é dada a conhecer pelos próprios e pelas medidas que estão a ser tomadas. E se estão pior também não há aqui vitórias para os alunos, mas derrotas para o ensino.
    Espero que sobre isenção jornalística estejamos conversados (mas qualquer outra dúvida, diga-me). Agora, no meu blogue ou em artigos com o cabeçalho "opinião" eu posso escrever o que eu quiser!
    Recordo-lhe que os jornalistas, tal como os professores ou outro qualquer profissional, também são cidadãos e como tal têm direito a exercer a sua cidadania e esta também passa por pensar a realidade e interpretá-la à luz da sua educação e das suas convicções sociais, políticas e religiosas.
    Espero tê-lo esclarecido e obrigada por ler o PÚBLICO!
    BW

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  4. Em 1º lugar obrigado por ter respondido.

    Quanto ao prof Marcelo, esqueça! :) com as inconsistências dele posso eu bem; e que eu saiba ele não é jornalista...

    Continuando, eu posso estar enganado mas parece-me que a construção de uma notícia não é assim uma coisa tão, tão asséptica quanto se depreende do seu comentário; e mesmo que fosse há sempre aquela coisada mulher de Cesar, etc.

    E a sua frase "se [os professores] estão pior também não há aqui vitórias para os alunos, mas derrotas para o ensino." só me reforça a impressão de menor isenção na "leitura" da realidade (a partir da qual diria que se constrói a tal noticia).

    Não sei, talvez esteja a ser injusto, mas repare - os jornalistas do Público também estão piores, e daí pode-se concluir que o Público está pior do que há 2 anos? Por acaso o meu exemplo não é muito feliz :) mas percebe a ideia? E o contrário tb não é necessariamente verdade - estivessem os professores "melhores", estava o ensino melhor? não creio.

    Só para acabar, longe de mim achar quem deve ou não escrever onde quer que seja, como disse foi só algo que me fez alguma espécie...

    :)

    Ricardo

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  5. Para mim, o jornalismo funciona dessa maneira "asséptica" como lhe chama, eu chamo-lhe "rigorosa". Porque acima das minhas convicções está o meu dever de informar bem (aliás o bom desta profissão é abalar as nossas convicções, não imagina o que eu tenho aprendido sobre tudo). Se a minha preocupação não fosse informar mas opinar não seria jornalistas mas seria comentadora, mulher-a-dias, taxista, treinadora de bancada, comadre, etc...
    Não sei de onde depreende que os "jornalistas do PÚBLICO estão piores e daí pode-se concluir que o PÚBLICO está pior do que há dois anos". Há dois anos os jornalistas do PÚBLICO eram os mesmos, a única diferença é que de há oito meses para cá somos menos, devido ao despedimento, como é do conhecimento geral. Portanto, a conclusão a que Ricardo Preto pode chegar é que o PÚBLICO pode estar pior porque os jornalistas são menos. Contudo, na área da Educação são exactamente os mesmos. Portanto, pode dizer que todas as áreas que levaram cortes podem estar piores, à excepção da Educação. E sublinho "podem estar", o que não é necessariamente a mesma coisa que dizer "estão"!
    Desconheço se trabalha e se o faz com outras pessoas, mas se sim saberá que as condições em que trabalha, a forma como é reconhecido pelo seu trabalho, se recebe ou não um prémio ou um aumento, se é ou não promovido, são tudo factores de motivação que poderão levá-lo a trabalhar mais e melhor.
    Portanto, se os professores - que estão com carreiras congeladas há anos, que levaram cortes como todos os outros funcionários públicos, que não recebem o subsídio de férias como os outros funcionários, que vão estar sujeitos à mobilidade, que vão ter horários de 40 horas - não se sentem valorizados profissionalmente, talvez tenham mais dificuldade em estar motivados para aquilo que fazem, talvez o façam menos bem. Eu estou convencida de que sim e, por isso, digo que a derrota é também para os alunos - mas, atenção, isto é a minha opinião pessoal. Se os alunos não tiverem professores motivados, dificilmente vão aprender bem.
    Aliás, eu era uma excelente profissional se fosse agora procurar um estudo que fundamente o que acabo de dizer. De certeza que existe e também haverá um que diga o seu contrário! Desculpe, mas agora não tenho tempo para fazer essa busca!
    Espero que tudo isto lhe faça menos espécie. E acredite na honestidade de quem lhe escreve e na forma como olha para a sua própria profissão - sabe, é como em todas as profissões: os jornalistas não são todos maus profissionais com agendas escondidas; assim como os professores não são todos terroristas vocacionados para fazer a vida negra aos alunos.
    BW

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  6. BW, mais uma vez obrigado por se dar ao trabalho de responder a um gajo qualquer, vá lá ao menos leio o público quase todos os dias*

    Concordo, claro, quando diz que "os jornalistas não são todos maus profissionais com agendas escondidas; assim como os professores não são todos terroristas", mas pelos seus olhos parece que os professores sairam de um cenário de Dickens, coitadinhos... Ora todos (sim, todos) sabemos que não é bem assim... Calculo que se eu procurasse na internet (e sou tão bom a procurar na internet informação de qualidade e valor acrescentado como gajas nuas) também encontraria alguns estudos, etc, que mostram que os professores portugueses funcionarios publicos nem estão nada mal - aliás, os salarios desceram, etc, mas não se vê propriamente uma debandada em massa para o ensino privado ou para outras profissoes. QED.

    E pronto, é isso, acho que não nos vamos entender, mas também não é propriamente necessário :)
    * àparte o editorial "anónimo" pós-moderno.

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  7. Caro Ricardo Porto, aparentemente só leu este meu post, se se der ao trabalho de ler outros verá que o retrato dos professores não é esse tirado de Dickens, aliás, se ler o meu livro "A minha sala de aula é uma trincheira" verá que está recheado de histórias todas verídicas de maus professores; assim como outras de excelentes profissionais. É a dita imparcialidade!
    Os professores não vão para o privado enquanto este não oferecer melhores condições, aliás, até há uns anos o percurso era o oposto: a saída do privado para o público porque havia progressão, melhores salários, menos horas, etc. E, mesmo com a deterioração das condições do público, as propostas para o privado não são melhores. Portanto, provavelmente e se puderem os docentes continuaram a fazer essa mudança. Mais uma vez, como noutras profissões, se lhe oferecerem melhores condições noutra empresa não aceitaria?
    Não é preciso procurar muito na Internet, basta ler o texto da Andreia Sanches na edição do PÚBLICO de ontem que diz, logo no primeiro parágrafo: "Entre 2005 e o ano lectivo 2010/2011, o aumento dos salários dos professores portugueses — 12% — foi superior ao registado nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) — apenas 3%. Mas o número de horas lectivas também cresceu significativamente em Portugal."
    BW

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