quarta-feira, 22 de maio de 2013

Canto VI d'Os Lusíadas, por José Luís Peixoto



 «É a terra de Calcutá, se não me engano, disse o piloto de Melinde. E confirmou que aquela era a terra que procuravam.
Vasco da Gama caiu sobre os joelhos e juntou as mãos para agradecer aos céus.
Eram enormes aqueles céus.
É assim, pela coragem da acção, que se alcança a honra verdadeira e imortal. Tosco e bacoco é o favor que se alcança encostado ao nome dos antepassados ou de ossos estendidos em camas de ricos tecidos.
Abaixo a futilidade, a superficialidade. Abaixo o corpo saciado com açúcares e manhas. Abaixo a fortuna ociosa, não tem qualquer valor (zero).
Os teus braços são realmente teus. O esforço de que são capazes é a tua maior propriedade.
Sem medo, atinge-se a vera virtude.Com ela, puxa-se o lustre à inteligência e, no topo da montanha, encontra-se a serenidade que esclarece as dúvidas que confundem os seres humanos.
Numa sociedade justa, são estes poucos, heróis indiscutíveis, que devem ser chamados a governar.»
José Luís Peixoto, canto VI

O original, de Camões:
94
As graças a Deus dava, e razão tinha,
Que não somente a terra lhe mostrava
Que, com tanto temor, buscando vinha,
Por quem tanto trabalho exprimentava,
Mas via-se livrado, tão asinha,
Da morte, que no mar lhe aparelhava
O vento duro, férvido e medonho,
Como quem despertou de horrendo sonho.

 
95

Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores;
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zibelinos;

96
Não cos manjares novos e esquisitos,
Não cos passeios moles e ouciosos,
Não cos vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos;
Não cos nunca vencidos apetitos,
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Pera algũa obra heróica de virtude;
 
97
Mas com buscar, co seu forçoso braço,
As honras que ele chame próprias suas;
Vigiando e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas,
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regiões de abrigo nuas,
Engolindo o corrupto mantimento
Temperado com um árduo sofrimento;


98
E com forçar o rosto, que se enfia,
A parecer seguro, ledo, inteiro,
Pera o pelouro ardente que assovia
E leva a perna ou braço ao companheiro.
Destarte o peito um calo honroso cria,
Desprezador das honras e dinheiro,
Das honras e dinheiro que a ventura
Forjou, e não virtude justa e dura.

99
Destarte se esclarece o entendimento,
Que experiências fazem repousado,
E fica vendo, como de alto assento,
O baxo trato humano embaraçado.
Este, onde tiver força o regimento
Direito e não de afeitos ocupado,
Subirá (como deve) a ilustre mando,
Contra vontade sua, e não rogando.



1 comentário:

  1. Já agora que escreva a sua ideia da mensagem, do livro do desassossego, um novo memorial do convento, rescreva a odisseia de joyce, olhe porque não a piada infinita rescrita? HOMEM escreva as suas coisas, pare de se querer imortalizar e equiparar aos deuses, a unica coisa epica aqui é a sua tentativa de querer ir juntar-se ao panteao de lendas literarias.

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