segunda-feira, 11 de março de 2013

O Bieber não é importante

A reportagem da Cláudia Carvalho diz tudo, mas eu gostava de acrescentar mais uma coisinha!

Ontem à noite estava no aeroporto à hora a que o avião onde vinha o Justin Bieber aterrou. Vinha de Londres, tal como o meu filho. "Se calhar o mano veio no mesmo avião", digo à minha filha, uma "não fã" impressionada com o número de fãs que esperava o cantor de 19 anos.
Na área das chegadas, umas 30 adolescentes. Cantam e o tom sobe quando as portas se abrem ou quando alguém diz saber de qualquer coisa. Há momentos em que se levantam e começam a correr, com ar alucinado, para outras áreas do aeroporto para, de seguida, voltarem ao local de origem e continuarem a cantar.
Finalmente o meu filho e os colegas – que participaram numa prova internacional, representando o país e não ficaram mal classificados –, saem e são surpreendidos com aquela comitiva de miúdas da mesma idade.
"Viram o Justin?"; perguntam algumas, ansiosas.
"Esse panisga?! Não", responde um dos rapazes com um sorriso, fazendo os outros rir.
"Uuuuuhhhhhh!", gritam as miúdas, furiosas, mesmo zangadas, à medida que eles se afastam.
"Ehhh!", grito eu, batendo palmas, na tentativa de reparar tão má recepção.
Abraçamo-los, damos-lhes os parabéns, dizemos-lhes o quanto nos orgulham e o quanto, mesmo sem o país saber, mesmo sem aquelas miúdas saberem, orgulham Portugal. Despedimo-nos e regressamos a casa. No dia seguinte há aulas, mesmo que eles tenham acordado de madrugada, desde sexta-feira, para irem, para treinarem, para fazerem a prova, para voltarem. No dia seguinte há aulas, horários para cumprir, testes para fazer e novos treinos.
As miúdas permanem na sua vigília, à espera que Bieber saia pela mesma porta que os comuns dos mortais. Há pais a acompanhar aquelas meninas, dos 12 aos 15/16 anos, às 22h45 (hora a que chegámos, seguramente que estavam lá há mais tempo) até às 23h30 (hora a que saímos), em véspera de dia de aulas. Há pais a acompanhá-las, frente ao Pavilhão Atlântico, miúdas que estão desde dia 2 à porta do sítio onde o canadiano vai cantar. Estão a faltar às aulas desde então. Há pais que permitem (?) que as miúdas façam tatuagens com o nome do cantor.
Ser adolescente é isso mesmo: excesso! Mas, por vezes, falta a moderação (que não é própria da adolescência); e o sentido do ridículo. Por isso os pais são importantes nestas alturas, não para alimentar a coisa, mas para a moderar e relativizar.
BW


2 comentários:

  1. Li a reportagem e concordo consigo: que as adolescentes se comportem assim, faz parte. Que os pais lá estejam a acompanhar, é doentio. Quando eu tinha 12 ou 13 anos e quis ir ver ao aeroporto, ao Coliseu e ao Passeio dos Alegres os Duran Duran, os meus pais não deixaram. Tentei fazer uma cena, pus a música aos berros, forrei o quarto com posters e chorei baba e ranho. Odiei os meus pais. Hoje sou mãe de vários - curiosamente nenhum fã do Bieber, mas também nenhum oficialmente adolescente - e faria exactamente o mesmo que os meus pais.
    Para isso é que há múltiplas gerações; não podemos ser todos apenas "amigos"...

    Marta, Lisboa

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  2. Muitos professores hoje tiveram alunas a faltar para ir ao concerto... e eu não fui exceção. Como é que um fenómeno destes arrasta em Portugal 8 mil adolescentes! Como é que os pais se deixam arrastar por estes jovens? Sem palavras.

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