quinta-feira, 14 de março de 2013

"Buona sera...", disse Francisco

Quarta-feira foi um dia bom.
Gostei imediatamente de Francisco quando assomou à varanda e disse "Buona sera, fratelli e sorelle" (não sei se está bem escrito, desculpem). Não disse "que Deus esteja convosco" ou "Caros irmãos", nada disso, falou para os "irmãos e irmãs". Disse que era o "bispo de Roma", repetiu-o umas três vezes, como quem diz que é igual aos outros, ao bispo do Porto, de Bragança... ele é o de Roma. Pediu a benção antes de a dar e inclinou-se. O silêncio na Praça de São Pedro foi maravilhoso e fez-me pensar o quanto é preciso o silêncio para nos recentrarmos no que é importante.
Francisco parece ser simples e humilde. Meteu-se no autocarro com os outros cardeais e regressou à casa de Santa Marta, recusando ir num carro sozinho. Diz que João XXIII, dois dias depois de ser eleito foi aos correios meter umas cartas, deixando a cúria em polvorosa e a guarda suíça preocupada com a sua segurança. Imagino Francisco a fazer o mesmo!
Gosto do nome que escolheu. Lembrou-me imediatamente São Francisco de Assis, a sua coragem em enfrentar os poderes instalados, o amor aos pobres, a importância que deu às mulheres, permitindo que Clara o seguisse.
Horas depois, um amigo envia um SMS com a pergunta: "Assis ou Xavier?" e recordei São Francisco Xavier, o missionário jesuíta (da mesma ordem que o novo Papa), o homem que morreu às portas da China depois de 15 anos de missão pelo Oriente.
Curioso como estes dois Franciscos, tantos séculos depois, podem ser inspiradores e decisivos na agenda papal!
Parece que os restos mortais de Francisco, o vidente de Fátima, foram trasladados para a basílica do santuário no dia 13 de Março de 1952. Mas muito honestamente não me parece que esta criança estivesse nos pensamentos de Jorge Mario Bergoglio quando escolheu o nome de Francisco.

Quarta-feira foi um dia que terminou bem.
No Centro Cultural da Ponte, em Lisboa, um grupo de mulheres acolhe-me com grande hospitalidade. A conversa começa e flui com facilidade. A hora prevista para conversarmos depressa ultrapassa os 60 minutos que se multiplicam por dois, estariamos ali mais tempo a falar sobre jornalismo, sobre o seu futuro, sobre os dilemas e os dramas que o negócio vive. Ao contrário do eng. Belmiro, meu empregador, que não nos conhece e acha que os jornalistas do PÚBLICO escrevem "asneiras" e os seus directores são uns "cagarolas"; naquela sala estavam pessoas que nos conhecem pelo nome que sabem que o Ricardo Garcia escreve sobre Ambiente, que o José Vítor Malheiros sabe tudo sobre ciência, que o Paulo Moura é um repórter de primeira; pessoas que lamentam alguns nomes que foram na leva do último despedimento – não avaliam?, perguntam; pessoas que olham de maneira crítica para o jornal em papel, que são fãs do novo site. Em suma, que respeitam os jornalistas e o jornalismo.
No final, a moderadora oferece "A minha sala de aula é uma trincheira" ao centro e convida-me a fazer uma dedicatória, esqueço-me da data. "Uma data tão importante!", dizem algumas das participantes, referindo-se à escolha do Papa.
Foi a melhor maneira de terminar o dia.
BW

Sem comentários:

Enviar um comentário