quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Entrevista a Jorge e Daniel Sampaio

Tem precisamente um mês a entrevista feita por Anabela Mota Ribeiro para a Pública aos dois irmãos Sampaio, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio e o professor catedrático da Universidade de Lisboa Daniel Sampaio.
O que podemos aprender com Arnaldo Sampaio e Fernanda Bensaúde Branco de Sampaio, os pais destes dois irmãos?

Jorge Sampaio:

"Os seus pais promoviam a individualidade? Que existissem autonomamente, sem uma ligação umbilical permanente?
Isso sim, no sentido de cada um ser aquilo para que tem vocação. Um por todos e todos por um - não gosto da divisa, mas é significativa, praticamo-la muito. Outra divisa: a necessidade de falar sempre a verdade. Uma vez, sobre um ponto do liceu não disse a verdade sobre a nota que tinha tido. Isso durou meio dia. (...) No caderno estava uma nota pior do que aquela que eu tinha dito. "Isso não se pode fazer" [disse o pai]. Foi à estante e tirou um livro, era a história de um jovem a quem foi feita uma perseguição injustamente e o pai bateu-se por ele até ao fim. (...) "Lê este livro, tens de ser assim para eu ter confiança em ti".
(...)
Quando teve medo de dizer a nota verdadeira teve medo de o defraudar?
Acho que éramos educados para não falhar. (...) Nós podíamos falhar, tínhamos compreensão. Mas escamotear que falhámos era mau. Era preciso dizer que estávamos ali prontos para ir à luta, para levar as coisas a sério."



Daniel Sampaio:

"Fale-me das pessoas da família que acha que são importantes nas vossas vidas, mais especificamente na sua vida.
Os pais, porque eram educadores muito bons. Eram educadores para a cultura, estavam sempre a fomentar o estudo, a reflexão, a leitura. As refeições ao jantar eram a discutir temas, não havia conversa mole; às vezes até era um bocadinho exagerado e protestávamos contra isso. Mas hoje vejo que foi uma coisa boa solicitar constantemente a nossa opinião sobre as coisas e saber o que estávamos a pensar. (...)
Sentiu-se na infância especialmente amado pelos seus pais?
Senti-me muito admirado. (...) Os meus pais não eram pessoas que demosntrassem um grande afecto do ponto de vista da proximidade física. Mas estamos a falar dos anos 60, 50.
E do que era ser pai e mãe então.
A distância entre gerações era enorme. (...) Não havia essas demonstrações de afecto que adoro nos pais de hoje, de andarem com os filhos pendurados.
Mas admiração é diferente de expressão de amor. Isso levanta uma questão interessante: perceber se podia falhar e se tinha medo de defraudar as expectativas que tinham em si.
Claro que sim, os meus pais não admitiam fracasso em nenhum campo. Não se podia falhar nos estudos, nas horas, não se podia falhar sequer nos namoros. Tínhamos de ser muito responsáveis com as raparigas.
Não as engravidar - é disso que estamos a falar?
Sim, respeitá-las como pessoas, não andar a saltar de umas para as outras. A educação era muito séria e exigente. Mas disso estou extremamente grato. Não chego atrasado a lado nenhum, nunca falto ao hospital. (...) Faltar à escola porque se tem uma dor de cabeça? Tomávamos uma aspirina e íamos às aulas. Nunca nos desculpávamos, nunca dissemos que não podíamos ir porque estavamos cansados. Os nossos pais não diziam para sermos os melhores, diziam para fazermos o melhor possível. E quando se faz o melhor de que se é capaz, às vezes é-se o melhor."

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