terça-feira, 27 de abril de 2010

Cristina Sá Carvalho dixit

Cristina Sá Carvalho é psicóloga de formação, professora universitária e directora do Departamento Nacional de Catequese, escreve periodicamente no jornal Página 1, da Rádio Renascença. Hoje escreveu sobre a avaliação dos professores. Concordo com os sublinhados!
BW

"Mais de trinta anos de ideologia dos direitos adquiridos e uma propaganda sindical falsamente naïve, alicerçada em visões patetas sobre a distribuição da igualdade entre os seres humanos, conduziu a uma defesa irracional da ideia de que todos os professores são bons – quando não são,
nem serão, porque ensinar bem é um processo extremamente complexo, amplo e difícil, acessível apenas a alguns e totalmente dependente daquele factor, indeterminado e potente, que se chama vocação – conduziram, a meu ver, a um sistema de quotização deficiente e injusto.
Tenho visitado muitas escolas e parece-me evidente que, no nosso país, a distribuição da competência educativa é muito pouco normativa. De facto, há escolas que, mesmo operando em zonas socialmente complexas e, por vezes, explosivas, beneficiam de um corpo docente estável em que a maioria dos professores é muito competente e, por isso, um grande número merece ser avaliado como muito bom ou excelente.
De um modo geral, esse grupo exerce uma influência positiva e estruturante nos colegas mais jovens, nos “flutuantes” e naqueles que já estão a perder a pedalada, equilibrando competências e vigiando os processos mais decisivos, reproduzindo, pois, a competência e o empenho. Recentemente aplicaram o novo sistema de escolha dos seus actores e não se terão arriscado a escolhê-los mal.
Em contrapartida, tenho visto escolas que, independentemente de trabalharem em circunstâncias adversas como favoráveis, fazem, na generalidade, um trabalho perfeitamente medíocre. Nestes casos, a própria liderança não só é absolutamente desprovida de critério, método e reflexão, como muitas vezes é refém de um grupo de docentes que controla metodicamente os privilégios disponíveis, como os horários e as turmas especiais, fazendo dos professores mais inexperientes uma carne para canhão que roda continuamente à procura de melhores condições. É evidente que, nestas escolas, quase nenhum professor merece chegar aos escalões mais elevados.
Como sempre foi previsível, parece claro que a Ministra da Educação não vai deixar passar em branco as reivindicações dos sindicatos quanto à avaliação dos professores. Muito à sua maneira, tocada de irónica e diálogo calculado, contando com a vantagem acrescida de conhecer muito bem todas as derivações e nuances que as próprias reclamações contêm e, tendo passado muito mais anos na sala de aula do que os augustos dirigentes sindicais, já percebeu que escolas repentinamente esvaziadas pela reforma súbita de muitos dos seus melhores só querem paz e um projecto de futuro que lhes devolva alguma autoridade e espaço de maneio suficiente para resolverem os problemas quotidianos.
O novo Estatuto do Aluno cumprirá o seu papel, o rearranjo curricular quase completará a tarefa. Só falta, mesmo, não ter receio de pagar melhor a quem é mesmo bom e de penalizar aqueles que não são capazes de avançar para além dos mesmos mínimos que propõem, com grande desrespeito, aos seus próprios alunos. Já agora, também não se deveria perder a oportunidade de rever os vários sistemas de formação inicial e contínua de professores."
in Página 1, Rádio Renascença

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